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O Futuro não é mais como era antigamente...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Essa semana eu fiquei assistindo alguns clipes da minha época de adolescência, lá nos idos da década de 90. E algo que me chamou a atenção foi a preocupação com o futuro e a busca por uma estética futurista. Ao buscar mais sobre essa estética e o motivo dela aparecer tanto nesses clipes, acabei por me deparar com uma série de produções que eu até conhecia, mas que nunca tinha parado para refletir na sua espinha dorsal - a imaginação/reinvenção/reflexão sobre o futuro. E ao assisti-los (comparativamente) observei muitos pontos em comum.

Parece bobeira. Quando vemos uma tentativa de estetizar esse "futuro" feito por nós, vejo ambientes claros (bem brancos), com todo tipo de equipamento touch e formas geométricas suavizadas. São visões em sua maioria caricatas e que (hoje) sabemos se tratar de uma idealização. 

Cada momento histórico e cada sociedade cria uma visão diferente do modo como enxerga seu futuro (as vezes bem próxima). E se hoje para nós é um caricatura, nos anos anteriores era uma interrogação. Por desconhecerem os avanços de que o homem seria capaz, a imaginação estava a solta para idealizar o futuro. Na construção desse futuro, alguns elementos se repetem. As cores (branco, azul, cinza, preto), a presença de metais, as formas geométricas, a presença de robôs, painés touch, a velocidade e equipamentos eletrônicos.

E  por que o futuro como tema? Bom, o mundo vivia um momento onde não se sabia o que seria o futuro no mundo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e especialmente a partir da década de 1960, o mundo mergulhou na Guerra Fria. Período caracterizado pela competição entre as duas grandes potências mundiais do período - de um lado os EUA, capitalistas e, do outro lado, a URSS, socialista. Modelos antagônicos, que não se chocaram abertamente e de forma bélica, mas que largaram numa corrida tecnológica aonde quem conseguia criar/"dominar" o futuro, seria quem venceria num possível confronto entre as nações.

Por haver um conflito aberto e declarado entre os países, tudo foi posto a serviço da "propaganda de desenvolvimento". Da indústria espacial, passando aos filmes, música e literatura. A pergunta que imperava era: como será o futuro? A que desenvolvimento chegaremos?

Uma das mais emblemáticas  produções sobre o futuro (no passado, rs) ficou por conta do Filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, 1968. Formas, brancura, automatismo.


Lá nos idos da década de 70 e 80,  imaginávamos um futuro metálico, maquinário, azul, cinza e frio. Limpeza, minimalismo e modernidade.

Na literatura, George Orwell, com sua obra máxima 1984, antecipa uma sociedade com um futuro controlado, vítima de tortura e corrupção. No enredo que tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia) -, tudo gira em torno do Grande Irmão (sim, Big Brother é o líder máximo - qualquer semelhança com o realityshow não é mera coincidência) que assumiu o poder depois de uma guerra de escala global, que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários. É um mundo sombrio e opressivo onde imperam cartazes com o slogan: "O Grande Irmão está de olho em você". E está mesmo, graças às "teletelas". Espalhadas nos lugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas são uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população, como um espelho duplo. Nesse cenário de submissão onde há inúmeras regras de convivência, ninguém nunca viu o Grande Irmão em pessoa. O livro fala sobre liberdade, ao combater um regime opressor.

Em 1988 é lançado Akira um animê japonês de 1988, do gênero ficção científica de Katsuhiro Ôtomo, baseado em um mangá de sua autoria. Foi a primeira animação japonesa a ser exibida em cinemas brasileiros que conta a história de Kaneda no ano de 2019, na chamada de Neo-Tokyo (pois a original teria sido destruída na terceira guerra mundial! Ui!). Após passar por alguns percalços, Tetsuo acaba por ser vítima de experiências que objetivam desenvolver poderes paranormais nele. Como resultado acaba enlouquecendo mas, com poderes que o igualam ao lendário akira reavivando o medo de uma nova destruição. Ou seja, para os japoneses (como veremos mais a frente ainda nesse post), o futuro é negro, sombrio e cheio de violência. Dominam no filme equipamentos tecnológicos, velocidade, urbanidade.


Essa estética vai influenciar uma das bandas mais emblemáticas e que passou a usar sons eletrônicos em suas composições - Kraftwerk.


(O vídeo é recente, mas a estética é a mesma!)

O som que se assemelha muito aos áudios de video-game (e não é a toa que os games como Sonic e Mario possuíam esse som eletrônico gostosinho) buscava refletir e talvez antecipar os novos (e desconhecidos) tempos. Um mundo onde a máquina se aliaria ou se sobreporia ao homem. Um mundo automático, rápido, mecânico.

Na medida em que os anos foram passando, acentuou-se cada vez mais essa visão de um futuro interligado e rápido. Os filmes e clipes internacionais sinalizavam isso.

(O Rei do Pop em Scream - Esse é de1995... Naves, brancura equipamentos de última geração, gravidade...)

Ainda em 1995, temos o lançamento do Mangá/Animê Neon Genesis Evangelion que trata do futuro de uma forma sombria. A história de Hideaki Anno e Yoshiyuki Sadamoto se passa de 2014 em diante e olha como a consepção de como seria esse momento no mundo estava TOTALMENTE diferente do que de fato vivemos hoje. O futuro, na história, é tecnológico, porém sombrio e desolador.


Olha essa seleção de clipes de nossos famosos ídolos da década de 90... (alguns breguíssimos! rs):

(J-Lo e sua interatividade antecipando os voyeurismo de plantão da internet)

(Spice Girls e uma máquina muito louca voadora. Cinza, velocidade e sensualidade)

(N'sync - o clipe não chega a ser futurista, mas reparem no pano metálica atrás dos meninos e nos flashes. O mesmo se aplica ao clipe abaixo, com um tubo azulado, flashs e efeitos...)


O clipe da boyband Backstreet Boys Larger Than Life fez muito sucesso pelo seu apelo futurista. Uma visão colorida, mas avançadíssima do "futuro".


Na porta dos famigerados "anos 2000" diversos artistas buscaram uma estética e uma linguagem que mostrasse um futuro hi-tech, com internet bizarramente rápida e conexão integral de todos com tudo. Na boquinha dos anos 2000 (1999), a linda  Björk lança seu clipe All is full of Love. Mais futurista IMPOSSÍVEL.


Ainda em 1999, Matrix anuncia um futuro filosófico e hi-tech. Máquinas, internet, muito verde e couro. O futuro é sombrio pois ninguém (só os escolhidos) sabem viver fora da Matrix.


E na Moda? Bom, diversos estilistas trabalharam o tema do "futuro" na moda. Na verdade, eu creio numa mútua influência das mídias, da produção artística e do contexto histórico que o mundo vivia. Tudo isso, somado, se influenciava mutuamente. E com a Moda não seria diferente.

Nas décadas de 1950 e 1960, Pierre Cardin, Paco Rabanne e Courrèges foram os estilistas que trabalharam esse tema em suas coleções. Veja as produções de Cardin abaixo:





Já Paco Rabane começou suas criações inovando com materiais. Desde o seu primeiro projeto em 1962 era muito futurista porque inovou com materiais nunca antes utilizados como metais, plásticos e vinil. 




André Courrèges trabalhou com cores primárias, listras, jaquetas de vinil e botas de plástico. 





Após dos anos 2000, a visão do futuro mudou um pouco. Mas ainda estão presentes o azul, a velocidade, a tecnologia. O estilista Alexander McQueen fez um desfile onde o futurismo respirou essa nova releitura, com composições que não abandonaram o ar psicodélico que impera no futurismo, mas que demonstram uma novo imaginário. 





Lady Gaga usou o look futurista de McQueen no seu clipe Bad Romance. Reparem a visão de futuro aqui apresentada: o clipe é de 2009. Nada de azul. O clipe é maciçamente branco e minimalista. Porém, alguns elementos antigos ainda se apresentam, como as roupas justas ao corpo, vinil e tecnologia.


Atualmente, o futurismo tornou-se sinônimo de ousadia e experimentação. Grandes marcas como Mugler, Burberry, Kenzo entre  outras aliaram suas coleções à inspiração futurista, garantindo peças com um design diferenciado, mas identificável: metalizados, texturas, desconstrução e tecidos sintéticos.

Mugler, Kenzo e Burberry 2013 outono/inverno
Eudon Choi  Primavera/Verão 2013
Eudon Choi  Primavera/Verão 2013
Burberry
Burberry

Qual será a leitura do futuro para frente? Não sabemos. Mas provavelmente será uma releitura de todos esses elementos aqui apresentados. Uma nova apropriação. Lembrando que essa idealização sempre está diretamente relacionada ao momento histórico e a sociedade que o produzir.

Fica a dica! =)

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