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Casa Canadá: reduto da alta costura no Brasil.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

É comum associarmos a alta costura as maisons estrangeiras e pensarmos que esse tipo de moda não tinha grande circulação e força no Brasil até um tempo atrás. Mas o que poucos sabem é que o Brasil já abrigava, ainda que nos principais centros urbanos, casas que se tornariam referência para o desenvolvimento da Moda no Brasil.

Contextualizemos: Rio de Janeiro, década de quarenta/cinqüenta. Temos o aparecimento da televisão, a bossa-nova, o glamour traduzido em reuniões na Confeitaria Colombo, nos vestidos acompanhados de luvas e chapéus. Nesse cenário, despontava a Casa Canadá - epicentro da elite carioca que se abastecia com os luxuosos vestidos confeccionados por mestres da moda estrangeira e  primeira casa nesse estilo no Brasil.

Como tudo começou?

Mena Fiala, descendente de italianos, nasceu em Petrópolis, onde aprendeu com as irmãs Falconi a arte de fazer chapéus. Por volta de 1929, mudou-se para o Rio de Janeiro e conheceu Jacob Feliks, fundador da Casa Canadá, com quem passou a colaborar.

A Casa Canadá funcionou na Rua Gonçalves Dias até 1934. O sucesso gradativo levou à inauguração da sua segunda sede, na Rua Sete de Setembro. Mena e Cândida foram convidadas para dirigir a seção de roupas. Cândida ia cinco vezes por ano a Paris e trazia modelos de estilistas como Balenciaga, Chanel, Dior, Jacques Faith e Schiaparelli, vendidos exclusivamente na Canadá. Era a entrada da alta costura no Brasil. Os vestidos de noiva produzidos pela Casa também eram grande destaque. Feitos de tecidos finos, renda, ricamente bordados com ouro e pedrarias e trabalhado, eram disputados pelas noivas mais ricas da cidade.

Trazendo modelos de fora, as irmãs tentavam entender a montagem das roupas e reproduzir aqui, com base na inspiração dos modelos europeus. As irmãs buscavam, inclusive, adaptar os modelos estrangeiros para o clima e gosto brasileiro. Usavam além dos tecidos importados, os produzidos na Fábrica Bangu. Elas impulsionaram a implantação e o desenvolvimento da indústria do vestuário.

Canadá de Luxe

Como a procura era crescente, a importação complicada e visando atender às clientes, foi aberta, em 1944, a Canadá de Luxe, a primeira grande casa de alta costura do Brasil. As irmãs inovaram realizando o primeiro desfile com manequins vivas, inaugurando a tradição dos desfiles de moda como apresentação de tendências à imprensa e ao público  – por estação. A cada estação, um novo desfile. Muitos desses desfiles eram realizados no Copacabana Palace. Mena e Cândida também foram responsáveis pelo primeiro prêt-à-porter do país. As roupas desfiladas eram facilmente divulgadas ao circularem com suas donas pelos corredores do Palácio do Itamaraty, em embaixadas, Brasília, em encontros políticos realizados em outros países e no Jóquei, principalmente do Rio de Janeiro.

Cronistas como Elsie Lessa, Malu Ouro e Ibrahim Sued e personalidades como Darcy Vargas, Santinha Dutra, Thereza Goulart, Dona Sarah e Juscelino Kubitschek, Eva Monteiro de Carvalho, Dulce Figueiredo e Lourdes Catão eram figuras fixas na Casa. Vânia Pinto (Miss Brasil e artista de cinema nacional) e Adalgisa Colombo (Miss Brasil) eram duas das muitas modelos da Casa Canadá.

A Casa Canadá fechou suas portas em 1967, mas Mena e Cândida continuaram dirigindo desfiles até 1972. No entanto, a Casa Canadá  ficou na história da moda brasileira como uma pioneira em desenvolver no Brasil modelos de luxo e qualidade equivalentes aos parisienses

Em 25 de maio de 1977, quando completavam cinqüenta anos de carreira, realizaram um desfile apresentando sessenta criações, no Hotel Sheraton, em benefício da obra O Sol

A fundadora Mena Fiala em foto de 1987.
Por toda a importância que tiveram na moda brasileira, Mena e Cândida ganharam o título de Beneméritas do Rio de Janeiro, outorgado pela Assembléia Legislativa e o prêmio Multimoda, conferido pela Multifabril. Mena ainda foi eleita Mulher do Ano da Moda, pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, o que resultou em seu ingresso na Academia Brasileira de Moda, conferido pelo Instituto Zuzu Angel.

Em 1996, no Rio de Janeiro, foi realizada, no Museu Histórico Nacional, a exposição Mena Fiala – Um Nome da História da Moda, onde o público pôde comprovar o trabalho minucioso de Mena e Cândida e assistir, em vídeo, desfiles da Casa Canadá.

Quinze anos depois, temos uma nova exposição, desta vez sobre a própria Casa Canadá.

A exposição “Casa Canadá” relata um pouco da história da relação da Casa com a Cidade Maravilhosa e a política brasileira. A exposição conta com depoimentos das manequins, fotos da época, revistas, anotações, jóias de Burle Marx usadas em um dos desfiles da Casa, filmes de desfiles e croquis. Pode ser conferido, também, o acervo do fotógrafo Carlos Moskovics, preservado pelo Instituto Moreira Salles – IMS.

A mostra apresenta a criação da Casa Canadá nos anos 40, seu apogeu nos anos 50 até o declínio em meados dos anos 60. A expo começa com ares europeus, apresentando a grande influência da cultura francesa no Brasil. Em seguida, parte para a reprodução de uma passarela igual a da maison, que foi palco dos primeiros desfiles de moda do país. Por meio de vídeos disponíveis em iPods, o fashionista também poderá conhecer as seis principais tops da marca. Vale a pena conferir!



Desfile de 1952.
Desfile da Casa Canadá. (1953)
Primeira Fila -  1954




Exposição “Casa Canadá”
Local: Arte Sesc
Rua Marquês de Abrantes, 99 – Flamengo.
De 10 de janeiro a 30 de janeiro de 2011.
Visitação: de terça-feira a domingo, 12h às 18h
Entrada gratuita


Fica a dica! =)

3 comentários:

@likeazombie disse...

Lindas fotos! Ótimo post!

Anônimo disse...

Amei!!!
Pesquisei mt e esse foi o único site que enontrei o que queria.
Bem concluído e tudo com mt clareza.
Adorei!!!

Vanessa Codeço disse...

Obrigada, querida. Volte sempre! =)

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