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História da Moda: Minimalismo

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Outono/Inverno Europeu - 2008
Um dos termos que costumamos ouvir muito em Moda é Minimalismo. "Desfile minimalista", "Look minimalista", "Aposta Minimalista". Normalmente, quando falamos assim, estamos nos referendo a economia de adereços, a trajes especialmente simples e impactantes, onde a beleza se encontra justamente na ausência de muitos elementos.

Mas o que pouco sabem é que o Minimalismo em si não é somente uma opção de look, como o rocker, lady like e etc. Antes disso, é a consequência de um movimento artístico, cultural e científico que nasceu no século XX e influenciou diversos campos da atividade humana, dentre eles a Moda. 

Para vocês terem uma idéia, o termo pode ser usado para descrever as peças de Samuel Beckett, os filmes de Robert Bresson, os contos de Raymond Carver e os projetos automobilísticos de Colin Chapman. Confuso? Vamos lá.

A essência do minimalismo é o menos. Usa-se de poucos elementos fundamentais como base da expressão, seja em que esfera for. Caracteriza-se pela extrema simplicidade de formas e pela abordagem literal e objetiva dos temas. As obras minimalistas possuem um mínimo de recursos e elementos, justamente para dessa limitação, nascer a expressão máxima daquele que as utiliza. Assim, os minimalistas produzem objetos, idéias, expressões... simples, mas com sofisticação. 

A pintura minimalista usa um número limitado de cores e privilegia formas geométricas simples, repetidas simetricamente. Um quadro de 1913 do pintor russo Kasimir Malevich (que mostra um quadrado preto sobre um fundo branco) serviu como ponto de partida para, meio século depois, termos o desenvolvimento do minimalismo na arte.

Kasimir Malevich - 1913

Por volta dos anos 60, o minimalismo ganha força nas artes plásticas. Ele surge após o ápice do expressionismo abstrato nos Estados Unidos. Havia uma insatisfação com a action painting, ramo do expressionismo que dominou a arte americana de vanguarda durante grande parte da década 50. Contrapondo-se a esse movimento, o minimalismo procurava através da redução formal e da produção de objetos em série, transmitir ao observador uma percepção fenomenológica nova do ambiente onde se inseriam. 

Instalação artística de Dan Flavin
Artistas como Dan Flavin (que através de tubos luminosos modifica o ambiente da galeria), Sol LeWitt (que criou estruturas compostas de elementos cúbicos ou derivadas do cubo, que convidavam o espectador a reconstruir o retrato mental das variações possíveis de uma dada figura), Frank Stella (conhecido por seus quadros recortados, pintados com cores planas ou em bandas monocromáticas), Donald Judd (considerado excessivamente geométrico até mesmo para os conceitos do construtivismo), dentre outros, foram grandes representantes do Minimalismo não só nas artes, mas como movimento, buscando sua aplicabilidade em diversas áreas.

Frank Stella - Série Transferidor  - 93 pinturas baseadas em 31 de formatos de tela, cada um com3 tipos de composição

Sol LeWitt, Incomplete Open Cube,1974

A música minimalista nasceu com a série Composições 1960, criada por La Monte Young, esta pode ser cantada apenas com duas notas. Nessa área quase se poderia dizer que teve como um de seus precursores o compositor alemão Carl Orff, em Carmina Burana. Os compositores minimalistas passaram a adotar um estilo simples e literal, e dessa forma criaram uma música extremamente acessível. Phillip Glass, Steve Reich, Arvo Part, Cornelius Cardew, Yann Tiersen, John Coolidge Adams e Frederic Rzewski são grandes expoentes desse grupo, junto com Carl Orff.  



A literatura minimalista caracteriza-se pela economia de palavras, evitam-se advérbios e sugerem contextos a ditar significados. Espera-se dos leitores uma participação ativa na criação da história, pois eles devem “escolher um lado” baseados em dicas e insinuações. Os personagens de histórias minimalistas tendem a ser comuns, nunca personagens formidáveis, como famosos detetives ou ricos. A raiz da literatura minimalista americana é o trabalho de Ernest Hemingway, e um dos melhores exemplos desse estilo é o seu Hills Like White Elephants. No Brasil tem crescido muito a produção de minicontos (ou microcontos), gênero associado ao minimalismo. Nesse sentido a obra Ah, é?, publicada por Dalton Trevisan em 1994, é considerada obra-prima do estilo minimalista.

Na Moda, esse movimento não poderia passar em brancas nuvens. Aqui impera o lema "Menos é mais". O minimalismo no mundo fashion (como ocorreu com o movimento em si - não se esquecendo que sua influência na moda foi somente um desdobramento em mais uma área da atividade humana) sempre vem associado a uma resposta aos excessos. Muitas vezes notamos uma forte influência do Minimalismo em coleções posteriores a estações onde imperaram modelos com brilho, cores fortes e demais exageros. 

CK, Lanvin e Narciso Rodriguez
CK, Outono 2010




Fashion-Rio 2011 -Walter-Rodrigues, em minimalismo andrógino

O que caracteriza a moda minimalista é a sofisticação no shape, na alfaiataria; a atemporalidade, a tecnologia, a cartela de cores reduzida e a estética clean, com forte apelo geométrico. O famoso “pretinho básico” é um ícone. Há quem diga que Chanel pode ter sido a criadora, na moda, do minimalismo. Coco promoveu uma mudança no modo de se vestir das mulheres de sua época. Foi uma estilista que partiu bem desse conceito do "menos é mais" para ter suas idéias, tornando famosas peças elegantes e sóbrias conhecidas até hoje. Tá certo que ela investia em acessórios, o que seria a primeira evidência de que seu estilo poderia não ser minimalista. Mas não há como negar que Chanel minimizou (e modernizou) o shape feminino, libertando as mulheres de espartilhos, chapéus imensos, roupas extremamente trabalhadas e pesadas.

Chanel por Karl Lagerfeld: Minimalismo na composição e detalhes geométricos.

Ficou interessado? Para saber mais, eu recomendo esse livro aqui:

De Pierre Cardin às artes plásticas, de Olivier Theyskens, à foto de Kate Moss em uma Vogue de 1993. A autora Elyssa Dimant explorou desde a década de 1960 até os dias de hoje. Pela editora norte-americana Collins Design, o Minimalism and Fashion: Reduction in the Postmodern Era tem o prefácio escrito por Francisco Costa, brasileiro e estilista da Calvin Klein (#bapho!). O livro traça ainda paralelos entre Coco Chanel, Roy Halston Frowick, Andy Warhol e Miuccia Prada. 


Fica a dica! =)

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