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História da Moda: Discutindo conceitos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Moda nunca fez furor no meio intelectual. Mas fez na vida comum. Não somente no número enlouquecido de meninas comprando e comprando... Mas na própria reflexão que foi possível, também, por ela. 

A Moda mudou hábitos. Influenciou as Artes, a Música, movimentos diversos... Afetou a atitude da maioria das pessoas em relação a si mesmas e aos outros, em qualquer âmbito ou ambiente. Muitas delas negariam isso (inclusive, os intelectuais), mas essa negativa é normalmente desmentida por seus próprios hábitos de consumo (excessivos ou não, sempre conectadas com o seu habitus). Como tal, a Moda é um fenômeno que deveria ser central em nossas tentativas de compreender a nós mesmos em nosso contexto histórico e não ser considerada escória acadêmica, objeto de futilidade.

Moda tem haver com mudança, muito mais do que com roupa. É um rompimento com a tradição e um incessante esforço para alcançar o novo. Mas a mudança não é uma qualidade suficiente para descrever a Moda. 

Temos uma associação da Moda com a roupa. Ora, as roupas são a base material da Moda, ao passo que ela própria é um sistema de significado cultural. Não é despropositado associar o conceito de Moda estritamente a roupas, mas ao mesmo tempo é óbvio que nem todas as roupas podem ser incluídas nele, de tal forma que o termo Moda tem esse referencial estreito com a roupa. Há uma série de fenômenos não relacionados a roupas, mas que podem ser descrito como “moda” e nesse sentido, o termo tem uma extensão bem maior que roupas somente.

Modernamente, alguma coisa é Moda se funcionar de maneira socialmente característica e fizer parte de um sistema que a substitui de modo relativamente rápido algo velho por algo novo. No que concerne esse novo? Não é novo no sentido do objeto em si (é inteiramente concebível que um objeto não caracterizado como novo – uma velha jaqueta de couro – seja descrito de forma muito precisa como “in”). Assim, a moda não precisa introduzir um objeto novo, mas pode reinventar um produto, uma forma de usar.  Mas se a moda não precisa, de fato, introduzir um objeto novo, ela pode dizer respeito ao que não está se usando (como saias rodadas, com anáguas, longos chapéus emplumados e pesados!). Nunca o vintage foi tão valorizado!

Você consegue adivinhar qual é a peça vintage desse look?

Acima de tudo, há um vínculo entre Moda e identidade. As roupas e ornamentos são parte vital da construção do eu - e da diferenciação do outro. Não é mais um fenômeno da tradição, mas uma construção, algo que escolhermos em virtude de sermos consumidores e desejarmos passar alguma mensagem que também é transmitida pelas roupas. A Moda não diz respeito apenas à diferenciação de classes, mas está relacionada com a expressão da individualidade. O vestuário é parte do indivíduo, não é externa à identidade pessoal. Assim, as roupas não são um escudo do corpo, antes disso, a extensão dele. E todos nós temos de expressar de alguma maneira quem somos através de nossa aparência visual. E muita vezes camuflamos, adaptamos nossa aprência com a roupa de forma a nos adequarmos as situações e lugares.

Seja sincero: julgando pela aparência, qual das duas você contrataria para trabalhar numa empresa tradicional?

Viver num mundo regido pela Moda é ser cronicamente estimulado por um fluxo constante de novos fenômenos, produtos e hábitos. Tentamos cada vez mais expressar nossa individualidade, mas contrariamente, o fazemos de tal modo que muitas vezes conseguimos expressar apenas uma impessoalidade abstrata. Ah... Ficamos entediados com o velho!



Essa característica do gosto pelo novo veio da sociedade européia, na passagem do mundo Medieval para o Moderno, embora se admita que ganhou fôlego com a economia capitalista mercantil e se alastrou graças a burguesia, que desejava se vestir como os nobres. Esses, ansiosos por se diferenciarem daqueles, renovaram suas roupas e adornos, que foram copiadas pelos burgueses novamente, modificadas e copiadas, num movimento repetitivo que - ouso dizer – se reproduz até hoje. 

Até aquele momento, não se podia falar de Moda. Ela não era universal. As sociedades pré-modernas eram conservadoras. Usar ornamentos simples ou sofisticados com um interesse estético poderia até ocorrer, mas suas características permaneceram inalteradas em certa instância por anos. Eram duradouras. Uma mudança de estilo ou de forma de vestir não se configurava como Moda. A moda só se configura quando a mudança é buscada por si mesma e ocorre de maneira relativamente freqüente.

O desenvolvimento da Moda indicou a direção da modernidade, uma abolição das tradições. Mas ela traz também o irracional. É a mudança pela mudança, ao contrário do que a própria modernidade prevê, mudanças que conduzem a cada vez mais a racionalidade. Assim a moda também é coerção. Uma coerção substituída por outra. É a submissão à tirania da nova moda.

Há aqueles que julguem e critiquem essa busca pelo novo e acima de tudo, a perseguição de nós, indivíduos, em perseguir esse ideal – em aceitarmos essa tirania (e acreditem, há várias formas de aceitarmos, sem que sequer notemos). Mas, não irá a pessoa que segue a Moda ficar em harmonia com o seu tempo? E não terá isso um valor em si mesmo?


Fica a dica! =)

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