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Moda e Velhice

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em Moda pode-se quase tudo. A diversidade surpreendente de estilos é um convite para a reinvenção. Mas, você já reparou que apesar da Moda possuir um discurso de que é acessível a todos - ela é vendida para poucos?

A lógica da Moda é lançar a cada nova estação modelos novos, releituras de antigos, padronagens e etc. Essa rapidez chega a nos chocar pois usamos uma determinada tendência, muita vezes, menos de 6 meses.

Há quem acredite que a Moda não seja pensada para idosos justamente por isso. Por serem mais velhos, ligarem menos para as coisas, seriam mais resistentes a mudanças tão súbitas de estilo, cores e etc. Eles não veriam tanto sentido em adquirir peças-desejo a cada nova estação. 

Em contrapartida, os jovens (por sua aceleração natural) e os adultos teriam maior paciência e gosto por essa busca. É bem provável que um jovem extremamente ousado em suas vestimentas, opte gradativamente por algo mais "tradicional" com o passar dos anos, mostrando um aparente desinteresse com a Moda e suas facetas e se tornando mais seletivo. E aqueles idosos que não acompanham essa inclinação são muitas vezes vistos como outsiders.

Pensemos: o conformismo, desânimo ou mesmo a resistência a mudanças dos mais velhos em relação as tendências é fruto não do avanço de suas idades (o famoso "Ah... isso não é mais para mim!"). Trata-se, antes de tudo, de um discurso que constrói e legitima os papéis, as ações que se espera dos grupos etários. Espera-se que a terceira idade não tenha mais esse furor pelo mundo fashion pois já viveram muito e ganharam "sabedoria".

Uma mulher de 30, por exemplo, já atingiu a maturidade. Sua vida pessoal e profissional já está mais estável. Nessa idade muitas já estão casadas e são mães. Aqui há uma busca pela elegância e não por modismos. Invés de ousar em decotes, transparências e comprimentos curtos, prefere peças de qualidade e durabilidade, com um bom caimento, em tecido mais nobre. Essa mesma mulher pode até mostrar o colo, os ombros e braços, mas sabe que é melhor deixar a barriga coberta, pois "já não tem mais idade para isso".

Bem diferente de uma menina de 15 ou de 22 anos que experimenta tudo que vê pela frente (e corre grandes ricos de errar), a mulher mais madura já sabe o que lhe cai bem, o que usar ou não. Pensemos, então, na mulher de 40, 50... 80!  Mas percebam que essa pretensa maturidade (e eu não discordo dela, afinal tenho mãe e avó e conheço pessoas de idade que são bons exemplos do que escrevo), na verdade, é apenas reflexo de um discurso que ratifica como cada faixa etária deve enxergar a outra, como devem se comportar - e como devem se vestir.

Por uma observação cotidiana, sabemos (e sentimos!) que o passar dos anos nos dá mais vivência e as experiências nos calejam. A roupagem (sem trocadilhos, rs) que damos a essa sabedoria é que faz com que enxerguemos os idosos como aqueles que colocam em suspenso esse gosto pela mudança rápida e súbita (e muitas vezes desnecessária). É essa leitura que temos desse grupo etário que legitimou esse suposto desinteresse dos mais velhos por Moda.

Essa maturidade não é vendida. A idéia de roupas para esses grupos, embora vejamos nas passarelas muitos modelos usáveis para essas gerações, não é vendável.

As propagandas, os cartazes e desfiles estão abarrotados de modelos extremamente jovens. Elas são maquiadas até a exaustão para parecerem mais maduras, mais velhas, mais jovens, mais auteras, mais... mais... Mas são jovens! Por que não colocar nas passarelas, campanhas e etc, modelos de meia-idade? Homens com 60 anos em campanhas da Louis Vuitton ficaram absolutamente perfeitos! ( isso abre uma discussão sobre público alvo, mas deixemos isso pra lá). Agora, fora esses exemplos muito específicos, será que a idade só fica bem em comerciais de cremes rejuvenecedores?

Sean Connery para Louis Vuitton

Francis Ford Coppola e sua filha, Sofia Coppola.

Guitarrista Keith Richards, do grupo Rolling Stones


A Fotógrafa Annie Leibovitz e o Bailarino Mikhail Baryshnikov

Sally Ride (a primeira mulher americana a viajar até ao espaço), Buzz Aldrin (o segundo homem a pisar a Lua), e Jim Lovell (comandante do Apollo 13).


Mikhail Gorbachev, como garoto-propaganda da Louis Vuitton em 2007, rendido (vendido?) ao capitalismo?


A velhice não é trabalhada porque ela é feia. A velhice não vende - incomoda. Ela está associada a fraqueza, a dependência, a doença, a morte. É um discurso cruel? Sim. Mas ele está lá. Mascarado pelo discurso que tenta reforçar justamente uma idéia contrária: O velho lema de que "estamos na melhor idade." 

Relaciona-se a isso a idéia de que tudo é permitido: pequenos deslizes alimentares, sair ridículo pela rua (em termos de roupa), perder os modos... Aprecia-se idosos que fazem esportes não porque estão cuidando de sua saúde ou por gosto pessoal, mas porque aparentam ter se recusado a envelhecer.

Por que a velhice não pode ser trabalhada pelas passarelas? Se homens e mulheres ganham sabedoria com o passar dos anos, tornam-se mais seletivos em relação a peças, modelagens, cores e etc... Por que não usar isso como forma de inclusão? Por que relegar essas pessoas a escolher, dentro das coleções, o que lhes cai bem, mas sempre na obscuridade? No silêncio das araras das lojas? Por que não mostrar que a velhice tem a sua própria beleza e que isso pode ser muito rentável, sim.

A indústria fashion ainda não investe o necessário nesse setor, mas esse cenário tende a mudar. Um estudo realizado pela Itaucard sobre Cartões de Crédito na terceira idade mostra que 10% do valor das compras efetuadas com cartão no país são feitas por esse público, um faturamento de R$ 8,4 bilhões, e que vem crescendo a cada dia.

Alguns eventos ocorrem aqui no Brasil, buscando a valorização da idade na Moda (como esse aqui). É um  movimento parecido com a tentativa de inclusão a Moda Plus-Size, onde são realizados desfiles, workshops e afins para esses públicos específicos. Acredito que o que deva ser feito não é uma separação dessas esferas, mas a integração delas. 
Umit Benan Outono/Inverno 2011

Se a Moda possui o discurso de que é para todos, não há o menor sentido em uma separação. As campanhas, os desfiles e eventos devem ser direacionados a todos.

Pensemos nisso.

Quer ler mais? Veja isso.

Fica a dica! =)

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