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Qual é o preço do preconceito?

domingo, 11 de setembro de 2011

Essa semana, o veredito do estilista John Galliano saiu: uma multa de 6 mil euros (cerca de R$ 14 mil), mais 5 mil euros por custos legais.

Para quem não se lembra, o ex-estilista da Dior fora julgado em virtude de um vídeo divulgado na internet, onde afirmava amar Hitler e que os judeus deveriam morrer, dentre outros insultos. O incidente, ocorrido em 24 de fevereiro, motivou a demissão de Galliano do Grupo LVMH. Eu havia noticiado tudinho aqui.

Pois bem, o estilista alegou estar bêbado e por ter seu histórico relacionado ao  vício da bebida,  não se lembraria dos insultos. Galliano pediu desculpas, mas o fato é que o incidente mexeu tanto com o mundo da Moda que seu nome não for amais lembrado até o casamento da baphônica Kate Moss (que o convidou para desenhar seu vestido). Foi uma de suas poucas aparições fora do contexto de processos, depoimentos e etc...


Na época, muitos estilistas concordaram que os julgamentos sobre Galliano foram muito fortes e que qualquer um estaria suscetível a algum comentário "infeliz". O que dizer, então, de uma pessoa bêbada? Ou drogada?

A condenação de Galliano e sua pena acabaram por levantar uma nova questão: qual é o preço de um preconceito? Sim, porque ninguém discorda que o valor que Galliano terá de pagar foi irrisório, se comparado com a fortuna que ganhou como estilista chefe da Dior,  fora da grife John Galliano, também pelo mesmo grupo. Se recebesse a condenação máxima para um caso desse (crime de insultos à origem, religião, raça ou etnia), o estilista poderia ser preso por seis meses. Segundo o tribunal, o que ajudou a aliviar a pena foram os seus bons antecedentes criminais e o fato de ter procurado clínicas de reabilitação desde que o caso começou. Galliano terá ainda, possivelmente, de pagar uma indenização de danos morais a uma das vítimas de seus insultos.

Mas a pergunta continua no ar: qual é o preço de um preconceito?

Pagar uma multa irrisória e uma indenização resolvem o caso? Não sou judia, não sou gay, não sou negra (embora tenha negros na família)... ou seja, não tenho nada que tenha feito com que um dia na minha vida, eu fosse vítima de preconceito. Mas o que essas pessoas que foram gratuitamente insultadas por Galliano sentiram? E o que ele irá pagar resolve o caso? Então se cada grande nome da Moda, Mídia (ou algo que o valha) for preconceituoso, basta pagar uma multa e está tudo certo?

Não sou advogada, tampouco entendo de leis, processos ou atenuantes. Mas acho que a pena do estilista foi muito branda. Ele deveria ter sido SIM preso. Se não o fosse, deveria fazer trabalho voluntário, ser obrigado a dar palestras contra preconceito a judeus, negros e etc... Logo Galliano, homossexual assumido, sentir, exercer e divulgar o preconceito? Ele deveria ser o primeiro a entender que somente extirpando esse mal é que a humanidade poderá ser mais tolerante, mas altruísta. E nem bebida, drogas ou qualquer outra desculpa deve ser usada para justificar seus atos. Antes de tudo, foram eles que demonstraram seu real sentimento com relação aos judeus.

Isso me faz pensar num outro episódio que ocorreu essa semana, que também chamou a atenção pelo teor do comentário. O ator global Rodrigo Lombardi foi acusado de ser preconceituoso após uma afirmação infeliz no Programa do Faustão, no quadro Dança dos Famosos (dia 04 de setembro), do qual era jurado. Ao avaliar a apresentação do ator Miguel Roncato, o ganhador da competição, Lombardi teria comparado a perfomance dele a do cantor e dançarino americano Sammy Davis Jr. com seguinte comentário: 

"um cara negro, caolho,com um metro e cinquenta, que quando entrava no palco saía com dois metros de altura, loiro e de olho azul".



Sinceramente, não acho que Rodrigo quis ser preconceituoso. No minha opinião ele quis, antes de tudo, sinalizar como alguém seria tão genial a ponto de se transformar em palco durante uma performance. De se tornar outra pessoa. O comentário foi, obviamente, infeliz. Mas Rodrigo não estava bêbado, drogado e nem nada. Também não creio que ele quis ofender. Ele fez um comentário infeliz. Um comentário que demonstra como o preconceito está, ainda, arraigado em nossa cultura.

Devemos crucificá-lo por isso? Não. Mas devemos nos atentar, nos vigiar que, mesmo nas situações inocentes, nosso preconceito (porque TODO MUNDO tem preconceito) está lá, só esperando o momento de sair. O caso Rodrigo Lombardi serve para refletirmos até onde estamos, de fato, esclarecidos o bastante para evitá-lo.

Claro que não podemos comparar Rodrigo com Galliano. Nem de longe. Galliano quis ofender. Foi mesquinho, odioso, execrável. E merece ser punido por isso.

Só que o que ninguém percebeu até agora é Galliano recebeu uma outra pena, muito mais drástica que pensamos: o quase ostracismo fashion. Sem trabalhar desde o início do caso, o estilista é uma figura vaidosa. E nada pode ser pior para ele que não figurar em passarelas, com suas modelos fazendo caras e bocas e seus desfiles monumentais e glamurosos. O esquecimento, para Galliano, é mais duro que qualquer multa, prisão ou etc. Mas não é o bastante.

Se esse mundo não é justo, ao menos tenta ser compensatório.

Fica a dica! =)

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