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Falando um pouco sobre moda...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


 Ok, muitos pensam que Moda é assunto para patricinhas, homossexuais e consumistas de plantão. Sim, muitas pessoas ainda possuem o preconceito de que Moda é uma coisa fútil, feita para pessoas fúteis e que em nada acrescenta na vida de ninguém. Hoje, dedicarei um post no blog para tentar descrever um pouco do que eu penso sobre esse assunto.

Para aqueles que não sabem, sou formada em História. É meio que um pré-requisito (pelo menos na área de Humanas, me parece) os alunos serem desprovidos de todo e qualquer tipo de interesse em Moda, televisão, celebridades, em fim... Esses assuntos que vendem. De fato, 90% do tratamento que é dado a esses temas são de forma imediatista e visando unicamente vender revistas, aumentar IBOPE de canais. Não podemos culpar. Mas o meu ponto é o seguinte: não se admite que alguém que tenha “conhecimento” (ou seja, que possa discutir minimamente sobre qualquer assunto dito “relevante”, alguém informado e que tenha lidos bons clássicos das áreas de Humanas, ou seja, academicamente respeitado) goste de Moda. Isto porque se associa essa pessoa a consumismo e futilidade. Essas duas palavras parecem sinônimas quando associadas a qualquer esfera do mundo fashion.

Bom, óbvio que não negarei a lógica capitalista que existe em cima disso. A Moda hoje é, sim, uma indústria e como tal, necessita vender, para pagar seus funcionários, pagar aluguel, sustentar grandes contas e enriquecer os gênios por detrás das grandes marcas. Sim, é algo mercadológico. Isto posto, o que muitas pessoas negligenciam é que antes de mercado, Moda é arte.

Sim. Arte.

Já pararam para pensar o que leva um cara a desenhar todas aquelas roupas? O que leva uma pessoa a pensar todo o conceito de uma coleção, toda uma imagem que ela deseja divulgar? Acho que, antes do desejo de enriquecer e ser famoso, aqueles que se dedicam a essa área, querem, de certa forma, se expressar, como os grandes nomes da Arte um dia fizeram. Podem ser ou não descobertos. Valorizados ou não após sua morte. Não importa. Fazem Moda porque acreditam naquilo que produzem e ora bolas, o fazem bem feito.


Se pegarmos as biografias de grandes nomes da Moda (Zuzu Angel, Yves Saint Lourent, Chanel, Gaultier, Vivienne Westwood, Clodovil Hernandez, Alexandre Herchcovitch e etc) veremos que muitos deles condenam essa lógica de consumo. Eles próprios não são grandes consumistas de roupas, tão pouco são fúteis, homossexuais transloucados e afetados (a imagem que impera, mesmo na mídia, em grandes filmes e seriados). São pessoas com problemas, aflições internas, que protestavam, que muitas vezes foram julgados pela sociedade em que viveram, sendo rotulados das mais diversas formas erroneamente. E eram, muito menos, ávidos por fama. Para eles, foi algo que aconteceu naturalmente. Porque o mundo reconheceu sua genialidade. Romantismo? Sim, mas todos os grandes estilistas são, de certa forma, românticos incuráveis.

Esses mesmos grandes nomes da Moda admitem que há uma espetacularização e glamourização da Moda. Hoje, diversos jovens lotam os bancos das escolas de Moda em Paris, Milão, Nova York, Rio de Janeiro, fantasiados de estilistas, atrás da fama e riqueza conquistada por esses grandes fashionistas. Mas o que poucos deles entendem é que o glamour de um estilista dura alguns poucos segundos (os que ele leva atravessando as passarelas com suas modelos no fim do desfile). Os outros minutos dedicados a imprensa (entrevistas, gravações e etc) são editados, reinterpretados. Não são sua exposição nua e crua. E o que há de mais cru num estilista são os segundo finais de sua passarela.

Eles não querem só vender. Querem que o mundo entenda, também, suas motivações, suas mensagens. Não querem somente um grupo de meninas ricas e transloucadas comprando suas peças, mas sim que cada um pudesse entender o seu gênio criativo.

Há outro dado que me incomoda: as pessoas confundem andar na Moda com ser escravo dela.

Eu mesma já fui assim. Achava que todas aquelas meninas que compravam tudo que viam pela frente assim que havia a troca de coleção eram umas consumistas sem nada de melhor na cabeça. Ok, continuo pensando isso, rs. Mas o que hoje eu noto é a sutil diferença entre isso e ter um estilo. De aproveitar o melhor que a estação tem a oferecer. E é isso que os grandes estilistas ensinam. Longe do consumismo exacerbado, o que suas coleções apregoam é que você selecione dali o que combina com você, com sua idade, com seu tipo físico, com seu gosto. Eu não suporto estampas florais, não gosto de dourado e nem de cores muito alegres. Ora bolas, eu não tenho que comprar toda a coleção floral do Marc Jacobs só porque ele é Marc Jacobs. Mas, aquela saia azul marinho, escondida dentro de uma coleção inteira, me satisfaz e tem a ver com meu gosto, com as peças que possuo no meu guarda-roupa. Legal, posso pensar em adquiri-la.

E por quê? Porque gosto de me vestir bem. Porque gosto de ter opções no que usar. Porque gosto que as pessoas me olhem na rua e vejam meu estilo. A roupa também é uma forma de expressão e está mais do que comprovado na História de que a vestimenta é um dado social, antropológico, espaço de expressão de riqueza, classe, causas, gosto, tempo, lugar... Você pode saber muito de alguém apenas olhando para o que ela veste, pelo menos genericamente. Sempre imprimimos um pouco de nós mesmos em nossas roupas. Hoje percebo que a Moda serve a este ideal. Não foi feita para ser consumida desenfreadamente. Isso é burrice. Foi feita para ajudar você a se expressar melhor. O que garante boas coleções sem que você gaste um só centavo.  E garante, inclusive, a liberdade de você se vestir e se expressar como deseja em suas roupas. A Moda, embora pareça uniformizar, individualiza, pois ninguém usará nada como outra pessoa. A Moda pode te deixar social ou esportista, elegante... Ela te oferece opções.

O mais interessante é ver que as mesmas pessoas que negligenciam a Moda, ou a criticam, fazem escolhas diárias de roupa. Dizem que algo combina ou não com elas. Se não se importassem com isso, esse tipo de preocupação não lhes viria à mente.

Lembro-me do filme O Diabo Veste Prada. Em uma determinada cena do filme, Miranda (personagem de Meryl Streep) faz uma rigorosa exposição do caminho que uma simples cor faz desde sua primeira utilização por um estilista em um desfile até chegar às grandes lojas, voltadas para o público dito “comum”. Ela tinha  razão. Não há nada de mais sério do que a criação de conceitos. E como um lixeiro, um médico, um advogado, um engenheiro, um cozinheiro ou qualquer outra profissão, profissionais da Moda são tão necessários quanto. Moda exige conhecimento, visão global de mercado e, principalmente, preparação pois é uma área muito ampla e exigente.

Grande culpa desse rótulo de futilidade devemos a esses despreparados profissionais da Moda que, atualmente, fazem roupa, escrevem editoriais e etc apenas visando vender. Julgando que entendem mesmo do que estão falando. Esses caras transformaram o mundo fashion nesse comércio barato. Mas os intelectuais também tendem a negligenciar o contexto de todo este cenário, rotulando sem buscar entender por si próprios...

Quando nos dispomos a entender esse mundo, chega-se a esse tipo de conclusão aqui apresentada por mim. E parecemos nos aproximar um pouco daqueles mesmos estilistas, encerrados em seus ateliês, que buscavam mostrar ao mundo suas próprias individualidades.

Fica a dica! =)

2 comentários:

gicosta disse...

Concordo com vc em numero, genero e grau... rs.... gosto de moda e de me vestir bem, mas isso ñ quer dizer q sou uma alienada rs.... a outra coisa vc viu o filme da coco chanel? é muitooooo bom veja rs

Unknown disse...

Nossa, texto maravilhoso...cheio de estilo e atitude, assim como você!

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