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Elegância nas redes ou como não ser ofensivo com estranhos.

terça-feira, 16 de agosto de 2011


Não costumo tomar partido de discussões na internet. Muitas vezes elas se tornam um grande diálogo de surdos, aonde as partes simplesmente não dialogam, acabando por tentar legitimar seu ponto de vista como mais certo do que o de seu adversário. Mas, essa semana, um fato me chamou a atenção acerca de duas "personalidades" (e está entre aspas não por desmerecimento, mas por terem certo destaque e espaço na rede). 

Bom, uma delas é o crítico de cinema Pablo Villaça, diretor do site Cinema em Cena e do blog Diário de Bordo. A outra personalidade é Lola Aronovich, professora da UFC, com mestrado e doutorado em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC e autora do blog Escreva Lola Escreva

Duas pessoas que, apesar de não conhecer pessoalmente, admiro.

No caso do Pablo, não me lembro quando conheci seu trabalho, mas não deve distar de um ano e foi pelo Twitter. Um RT de suas mensagens me abriu um mundo sobre cinema e opiniões com embasamento que muito me chamaram a atenção, sendo um aprazível convite a seguí-lo.

No caso da Lola, eu conheci seu blog por intermédio do chato episódio que ocorreu entre ela e o Marcelo Tas, do CQC. Na época, me lembro como o post que ela escreveu me fez parar algumas horas para ler e conhecer suas ideias no blog. Segui de imediato.

Resumidamente: a história gravita em torno de um único tweet do Pablo, onde ele linka uma piada que, supostamente, denigre a imagem da mulher.


A imagem era, obviamente, uma piada. E a partir daí começou uma batalha onde Pablo é chamado de machista e alvo de ofensas não muito elogiosas por Maria Júlia, outra feminista assumida. Até o momento em que a autora Lola acabou tomando ciência do fato e a discussão ganhou proporções desnecessárias.

Para não ser injusta, voltei nos tweets de cada um dos envolvidos e foi triste admitir que a grosseria começou pelo lado feminino (no caso de Maria Julia) e não do Pablo, que foi acidamente irônico quando atacado (aliás, como sempre o é, de acordo com sua personalidade. Quem acompanha seu twitter sabe disso). A coisa foi evoluindo num crescente de ofensas que, quando Lola entrou na história, já tinha beirado o desrespeito total. Um pleno desperdício de energia de ambos os lados e que só faziam o tema ficar cada vez mais indelicado. E o quadro só se agravou quando as respectivas respostas de cada autor foram postadas (seja pelo twitter ou pelos blogs) e os admiradores de ambos começaram a escrever comentários em defesa de um dos envolvidos. Ai, a coisa se transformou numa baixaria. Ofensas, comentários debochados, abusos. Triste.

Bom, e por que eu escrevo esse post?


Porque tantas trocas de farpas, acusações e comentários ofensivos me fizeram pensar que a educação, o bom-senso e a elegância (e que aqui em nada tem a ver com dinheiro) fazem falta nesse momento. Fiquei refletindo como pode ser tão nefasto o mau uso da internet: quantas pessoas gastaram tempo para saber de algo tão "pequeno" como a briga de Pablo, Julia e Lola, quando poderiam estar desfrutando das informações que disponibilizam para a rede, cada um em sua especificidade. 

O que me deixou mais triste foi ter a certeza absoluta de que, em outras circunstâncias, Pablo e Lola não estariam em lados opostos. Fico imaginando se ambos fossem chamados para um determinado evento, por exemplo, um debate sobre algum filme que retrata as mulheres de forma degradante. Pablo participaria com suas impressões de crítico e Lola como professora e feminista ativa. Ambos não discordariam. Possivelmente se transformariam num coro e seguiriam os perfis de um e do outro, trocando tweets e retuitando mensagens.

Ai, entramos no título deste post "Elegância nas redes ou como não ser ofensivo com estranhos.". Os usuários de internet (e mais especialmente de redes sociais) perderam um pouco do bom senso. Parece-me que o mundo virtual se transformou numa grande terra de ninguém, onde por estarmos protegidos por um avatar, um nickname e não estarmos de frente com cada um com quem travamos um diálogo, podemos dizer o que pensamos de forma arbitrária, sem levar em conta as consequências disso. Parece-me, inclusive, que as pessoas criam mais coragem para denegrir, ofender, acusar e culpar. Arvoram-se de uma verdade que supostamente as colocam acima do bem e do mal. Como se suas palavras não tivessem consequências no "mundo real".

Canso de ver, nas minhas redes sociais, pessoas gastando uma energia fenomenal para insultar outras, criar burburinho, "causar". O que ganha uma pessoa em usar seu tempo para ofender alguém, lançar indiretas ou qualquer coisa parecida? E para que? Se essas pessoas soubessem como é deselegante, não o fariam. Por não citarem nomes, seus comentários só servem para: 1 - a pessoa a que se destina a carapuça e 2 - o restante dos seguidores, que acham infantil e uma perda lastimável de tempo. 

Como na "vida real", as pessoas precisam entender que um mínimo código de conduta necessita ser seguido na internet. O insulto praticado virtualmente é tão ofensivo quanto o feito "ao vivo e em cores". E ambos, nos casos mais drásticos, podem acabar em processos.

Voltando ao assunto Pablo/Lola:

Pablo postou uma piada. Júlia e Lola tem todo o direito de não gostar dela. Tem, inclusive, o direito de externar isso.  Sobre isso, Lola fez um interessante comentário em seu blog que me fez admirá-la ainda mais:
Estes foram os escorregões. Não creio que seja o fim do mundo, ou que valham pra marcar Nassif, Bule ou Pablo como machistas para sempre. Só revela um tantinho de ingenuidade desses homens. Tipo, eles não notaram que aquilo que postaram poderia ofender algumas pessoas? Não acho que seja má fé, sério mesmo.
Lola, foi ainda mais fundo na questão. Postou:

No caso do Pablo, só sei de uma reação: a de uma tuiteira feminista chamada Julinha, que respondeu ao tweet “Como conquistar as mulheres” com um “Só se for a sua”. Aí é que surge o verdadeiro desafio: como os caras reagem a essas reações? Porque escorregar é normal, mas como você se comporta ao ser criticado? O que você faz quando te apontam que você errou? Ninguém gosta de ser criticado (eu não acredito em quem diz que gosta). É sempre incômodo. 
Eu acredito que Pablo não se sentiu incomodado em ser criticado. Acredito que ele se sentiu incomodado em ser insultado de forma deliberada. Numa ponderação posterior, ele mesmo admitiu:
Vale ressaltar, inclusive, que neste meio tempo uma outra leitora (e que foi minha aluna em Manaus) enviou um tweet condenando a piada, mas educadamente - e que a respondi com similar educação, sem ironias ou agressividade.
Esse assunto me faz pensar também em intolerância. Fiquei ponderando: se postar uma piada como a que Pablo postou é ofensivo, então não podemos fazer piada com mais nada. Da mesma forma como se faz piada com mulheres, se faz com homens, com negros, com gays, com estrangeiros e com religiosos. E todos riem, em algum momento. Mesmo sabendo que "não é certo", que "não deveriam". Externar discordância dessa piada não ofenderia a Pablo, que, como bom ser racional, entenderia e respeitaria o posicionamento da pessoa. Creio que esse foi o ponto em que Júlia não entendeu e de onde originou-se toda a confusão.

Neste momento, me lembro do filme Borat. É impossível não se sentir incomodado com todas as piadas feitas com as minorias, maiorias e etc no filme. Mas mesmo assim, em algum momento, se ri. Nem que seja da genialidade de um cara em implodir toda uma ordem estabelecidas de esteriótipos, para mostrar que simplesmente não há sentido neles. Mas se ri. E se ri porque possui verossimilhança. Só rimos do que temos contato, do que conhecemos minimamente. Vai tentar ler uma comédia de Aristófanes sem as notas de rodapé. Você não acha graça de nada.

Agora, o fato de você não concordar com algo de alguém lhe dá o direito de insultar? Creio que não. Pablo é ateu assumido e diversas vezes faz comentários relacionados à igreja, religião ou fé dos quais eu (religiosa) não concordo. Mas nunca me senti tentada a responder algum desses comentários e o dia que o fizer, não o insultarei, mandando-o calar a boca ou algo parecido. Violência só gera violência. E da mesma forma que meu senso democrático me diz que ele tem direito de se expressar na forma como bem o convenha, tenho certeza de que o senso dele diz o mesmo, inclusive, de ouvir a minha expressão. E não trocaremos farpas por isso.

Igualmente para Lola. Não sou feminista, mas respeito e admiro sua militância. Acho seus textos inteligentes e com tópicos que já me fizeram refletir bastante sobre que posicionamento eu, como mulher, posso/devo ter na nossa sociedade. E, da mesma forma, algumas ideias dela ou comentários me pareceram extremistas. E nem por isso a ofendi. São as convicções dela. Não cabe a mim ficar atirando pedras se não concordo. Mas, se um dia eu fizer um comentário (educado) contrário, tenho certeza, ela não vai me ofender por isso.

O ponto que mais pega aqui é que muitas vezes 'não concordar' não significa 'ofender'. Possivelmente ambos, Pablo e Lola, seriam bem taxativos quanto aos seus pontos de vista. Cada um, de acordo com sua opinião, reafirmariam suas razões em não acreditar em Deus ou de ser Feminista. Não concordar com eles não me dá (e nem a eles) o direito do insulto. 

O mais "engraçado" foi ler os textos de cada um em seus blogs, fruto de reflexão diante do ocorrido, e notar que o mesmo bom senso que existe em um, impera no outro, ainda que discordando sobre o fato. Como se, de cabeça fria, ambos concordassem com o óbvio.

Pablo (como eu, você e todos nós) tem direito a liberdade de pensamento e de expressão. O problema é que se confunde liberdade de expressão com liberdade de ofensa. E isso é muito triste. Deselegante. Revela feio egoísmo.

Desculpem minha intervenção. Mas sempre acreditei que o espaço deste blog estava a serviço da beleza e também da opinião. E simplesmente não pude me abster. Aos autores: isso não é uma provocação e tampouco deboche.

Para os ledores deste blog, o conselho: moderação e respeito na internet e redes sociais.

Para aqueles que desejarem conferir os posts:


Fica a dica e meu respeito a ambos autores.

2 comentários:

TC disse...

Acredito ser natural do ser humano defender o seu ponto de vista, afinal, trata-se de sua íntima opinião sobre um assunto. O que acontece nesses casos, ao meu ver, é que a tão facilidade de "comunicação" traz junto também a facilidade de expressar suas idéias sem que antes se tenha um mínimo de restrição ao que se pensa no momento. Indelicado ou não, convenhamos que a maldade esta em quem lê, pois para essa mesma mensagem existe mais de uma interpretação. A nós, cabe verificar em qual campo a mensagem tenta abordar, mais ainda do que tão somente expressar, dentro de nossas concepções, o que ela representa.

Anônimo disse...

Cristina Silva, 32 anos - Rio de Janeiro/RJ

O Pablo Villaça é um crítico de cimema competente, porém, é sempre grosseiro, vaidoso e arrogante quando criticado. Não é a primeira vez que acontece.

Quem acompanha Twitter e Facebook dele sabe do que estou falando. Já o vi uma dezena de vezes tentando usar sua "cultura" para humilhar quem pensa diferente ou discorda de um posicionamento seu.

Acompanhava o twitter dele, mas sinceramente, depois desse escandalo de hoje, deixei de acompanhar hoje. O mesmo farei com o Facebook, acho.

Vi a piada dele, achei machista e tal mas nada demais... bobinha até. Nada de tão triste ou ofensivo, nada que não vejamos nos degradantes anuncios de cerveja. O escandalo e reação mimada e pretenciosa que ele costuma ter quando contrariado e teve mais uma vez hoje, em seu nível máximo, sim me incomodou. Chato... então, minha opinião: Erros da Lola, Julia (e Marias) à parte, essa atitude agressiva e sarcástica do Pablo infelizmente não é um caso isolado. Ele é assim. Bom critico de cimema, mas um poço sem fundo de vaidade.

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