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Moda para crianças

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ao longo da História, diferentes foram as visões sobre as crianças. Podemos observar mudanças importantes e significativas no que diz respeito à concepção de infância (e do que é ser criança) no decorrer do tempo, sendo as práticas e representações sobre elas integralmente ligados a valores sócio-culturais, políticos, religiosos e econômicos de cada época. 

Etimologicamente, infância é um termo originária do latim infans que significa aquele que não fala. A criança é aquela que não age, sendo excluída do direito de ser considerada “sujeito”, pois é percebida sob a perspectiva do adulto. 

Na Antiguidade, as crianças eram entendidas como tais e até os sete anos de idade não havia preocupação numa educação específica. Muitas ficavam aos cuidados das mães, parentas e escravas ou tutoras. Na Grécia, o inicio de uma despedida da infância se dava por volta dos sete anos, quando os meninos começavam treinos esportivos e militares. Esses treinos não correspondiam ao vigor de um treino adulto, mas já buscavam moldar o corpo desse menino para o futuro adulto que seria. As roupas também não diferiam muito, usando as mesmas modelagens que os mais velhos, sendo em menor tamanho.

Até o final da Idade Média,  a criança era considerada como um “adulto em miniatura”. Dessa forma, os modos de vestir, as conversas, os jogos e as brincadeiras e até o trabalho realizado pelas crianças não a distinguiam do “mundo” dos adultos. 


A partir da Idade Moderna, iniciaram-se algumas rupturas em relação aos modos como as pessoas percebiam, tratavam e se relacionavam com as crianças. As justificativas dessa mudança de mentalidade são a constituição da família burguesa; o advento da industrialização, que estrutura-se na ideia de que os homens precisam se preparar para a mão-de-obra, algo que condicionou a busca de uma educação adequada para os sujeitos em seus períodos de vida específicos; e a construção de teorias, em especial as da Psicologia, que focalizaram em seus estudos a compreensão do universo infantil. 

Se antes a criança era percebida e tratada como “um adulto em miniatura”, na contemporaneidade ela é percebida com um ser especifico. Ela é entendida em sua individualidade, como portadora de vontades e gostos, sendo potencial consumidora e alvo de diversas empresas que buscam criar produtos/serviços que, se não atraem os pequeninos, atraem os pais deles. E nesse grupo de caçadores de consumidores, claro, se inclui a indústria da Moda.

E já não é de hoje que isso ocorre. Diversas marcas já voltaram sua atenção para esse exigente grupo. E já não são somente as marcas puramente infantis (como a Bicho Comeu), mas também versões de marcas adultas, que ganham modelos para as pequenos (como a Melissa ou a Farm). 

Lady Dragon versão infantil e adulta, by Melissa

Melissa Aranha baby



A infância, hoje, é representada/vivenciada como o momento de alegria, de sonhos, onde as crianças possuem total liberdade de fantasiar. 


Também é o momento da definição dos gêneros. Não é a toa que as roupas das meninas sejam, em grande medida, no tom rosa, vermelho, amarelo e etc e que haja uma preferência pelos vestidos, saias e elementos ligados a esfera do feminino, como as frutas, rendas, babados, os cheiros adocicados e etc. Há também um apelo para os acessórios, como bijuterias multi coloridas, coroas (remetendo ao universo de conto de fadas) e botinhas de salto.


No caso dos meninos, há a presença de cores relacionadas ao universo masculino, como o azul, verde, preto e mesmo o marrom. Calças, bermudas e camisas de manga são as peças favoritas. Há também um forte apelo aos heróis (seja Marvel, de desenhos como Ben 10 ou animes) e até esportes, tendo o futebol como principal expoente.


Cruz Beckham
Com os avanços da tecnologia e do acesso à informação, a garotada está cada vez mais informada, dominando com facilidade e rapidez o mundo "dos adultos". Tanta liberdade parece ter saído pela culatra: ao invés de pais mais atentos aos filhos, mais informados e, justamente por isso, famílias mais estruturadas, vemos o contrário! As crianças estão emancipando-se cada vez mais cedo, assumindo uma autonomia que a induz a pular determinadas fases, como a da ingenuidade e da fantasia. As crianças estão sendo bombardeadas por propagandas apelativas que as levam, muitas vezes, ao consumismo exacerbado, ao incentivo em seguir padrões de beleza estabelecidos pela mídia e a uma erotização precoce. E, obviamente, essa demanda de crianças "adultizadas" também se reflete na Moda.

Isso me faz lembrar de um ensaio da Vogue francesa, que publicou um editorial polêmico com crianças vestidas como adultas. O exagero proposital da revista levou ao questionamento de como a influência do mundo adulto pode estar modificando o nosso próprio entendimento e percepção (de deles também) sobre o que é ser criança e que imagem ela deve ter.





E aí fica o questionamento: precisamos de crianças pretendendo serem adultas? Precisamos de meninas  usando cosméticos (que maltratam e envelhecem precocemente a pele), alisando/pintando cabelos, de meninos malhando cada vez mais cedo em nome de um corpo atlético e trabalhado, quando mal sabem quem são e com o que desejarão, de fato, se parecer num futuro? Será que podemos dar tanta liberdade assim, interrompendo uma das fases mais gostosas que existem em nome de um "livre-arbítrio" que eles sequer entendem o real significado?


Fala a verdade: você não tem medo?
Esta humilde blogueira que vos escreve é saudosista e romântica. Sou a favor da criança pela criança, sem apelos, sem fases interrompidas ou puladas. E isso também cabe ao que essa criança veste. Criança vestida como adulta, com decotes, calçados, roupas justas e cosméticos só fazem acelerar um processo que naturalmente vai acontecer - o do amadurecimento. Queremos nossos filhos, netos, sobrinhos bem vestidos e charmosos? Claro! Mas não queremos crianças pretendendo ser adultas - só fingindo. De preferência, enquanto brincam umas com as outras.

Fica a dica! =)

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